jesusagua.gif

Passos livro de prosa que estou a escrever

Rio do desespero
Tila

barco006.gif

Pensei antes de escrever, cheguei à conclusão que para o fazer não podia sair dos valores em que acredito.

Vou seguir os meus passos que são o de escrever sem a inquietação da crítica intelectual ou do aprazimento de egos alheios e intolerantes, senhores de todas as justificações.

Escrever de dentro para além ou seja deixar a minha alma respirar, escrever a sonhar como sempre tenho feito ao longo de mais esta passagem.

Se com o que repartir aqui conseguir tocar uma só alma penso que valeu a pena, é dar mais um passo na senda certa de um predestinado destino final.

Todos os dias dou graças a Deus por tudo o que me cedeu e foi muito. Ele é o senhor de toda a minha dita pois quando um dia partir de volta ao firmamento, ou seja, para lá da alucinação, levarei apenas o que está dentro de mim: esta enorme capacidade de amar, reconhecer, respeitar e descobrir, com que me iluminou ao longo de mais uma passagem.

 

Foram e são estes os meus passos.

 

 

 

 

 

 

 

As pedras que me atiram deixo-as no chão

(João XXIII)

 

 

 

 

Capitulo 1. O pescador

 

 

Rodrigo caminhava pensativo seus pés enterravam-se delicadamente na areia molhada naquele fim de tarde, a praia já se encontrava deserta há muito, a lua parteira da noite contemplava curiosa seus passos lentos e meditativos. A leve brisa que soprava resplendecia ainda mais a vasta e perfumada flora que o rodeava. Olhava com emoção a paisagem paradisíaca que o envolvia seus olhos fitavam o mar calmo na esperança de poder olhar os golfinhos que por ali compõem seu habitat natural. Caminhando cada vez mais paulatinamente tentando encontrar resposta para tudo o que já tinha vivido e o que desejaria ainda viver. Procurava constantemente saber que missão nesta vida era afinal a sua? Que lição, que aprendizagem teriam todos os seres de recolher? Tantas questões surgiam na sua mente e as respostas eram cada vez mais espinhosas, exigia demais de si, pensava muitas vezes que era demasiado ávido por tentar saber qual a intenção do Criador para si. Que plano Este lhe teria traçado? Que lição quereria transmitir? Mas mais difícil de saber, era se estava realmente a harmonizar-se ao previamente estipulado, se estava no caminho certo se faria parte um plano elaborado por arquitectos celestiais, a que o Olímpico confiara o desenvolvimento humano.

Pensava seriamente na caminhada que teria decidido realizar, uma peregrinação tantas vezes carregada de uma disputa dura, até chegar onde mais ambicionava ou seja ao plano que para si teria sido traçado nesta fugaz passagem pela vida, adquirir o máximo entendimento de todas as coisas que lhe fossem dadas a conhecer.

Começou por contabilizar a partir dos tempos de criança mas do pouco que recordava. Achava não ser o suficiente para poder encontrar respostas para um início complicado, mas seria aí necessariamente o princípio de tudo, começou por encontrar sua primeira dificuldade, até que chegou à conclusão que seria só e nada mais que um tempo de vivência, um período de aprendizagem e crescimento. Daí poderia trazer pequenos gestos de vida que formariam o seu carácter futuro, mas entendeu que já algo dentro de si teria de ter os valores necessários para poder escutar os recados do crescimento.

Seus pensamentos vaguearam no tempo até um espaço mais recente, seus pés insistiam a pisar de forma leve e lenta a areia humedecida por águas cristalinas trazida por suaves ondulações que abordavam o areal. O crepúsculo já adoptava conta de toda a paisagem que seus olhos conseguiam captar. Não dava sequer pela passagem do tempo que corria velozmente por si, os sons envolventes eram a musica que seus ouvidos ansiavam, o som lento da rebentação intrometia-se com o cantar de algumas aves que por ali ondulavam gostosamente saboreando a autonomia de voar que Deus lhes tinha ofertado. Seus olhos vadiavam por toda a paisagem que o abraçava, seu olhar dividia-se sem cessar pela montanha de um lado, a imensidão do mar no outro. O bater da maré no casco das pequenas embarcações de pesca artesanal que estava por perto despertou-lhe por instantes a atenção. O seu raciocínio desligou-se por momentos saboreando apenas aquele pedaço de tempo que ganhou uma consistência enorme. Sentiu que o desfrutar daquele lugar seria uma compensação por se ter aplicado durante o tempo até então vivido a caminho do seu trilho final.

Saboreou a felicidade como só quem a sabe, aquilo que para outro poderia nada significar, para ele era sem dubiedade um motivo bem forte para jubilar.

Mais à frente, no vasto areal, um cão brincava despreocupado e feliz, espojando-se desenfreadamente pela areia, refrescando seu corpo após um dia de intenso calor, o alegre bailado canino trouxe-lhe um sorriso de contentamento, sentiu por momentos vontade de se aliar naquele esquisito volutear, ao observar aquele cachorro sentia que algo tão simples como mover-se numa areia aprazível poderia ser um tempo repleto de sentimentos inquestionáveis, um tempo de consolação, a velha questão dos gestos simples poderem estar atestados de bons fluidos. Lembrou das pessoas que só se sentiam felizes entre bens materiais, aqueles que se sentiam enormes quando rodeados de gente dita fina e requintada segundo os padrões vitorianos e abortados, apoiada numa volumosa conta bancária, assim como ao volante de uma popó enérgico e ostentoso, e como seria a sua reacção se o mesmo se desnorteasse de encontra um poste solitário e impávido ficando irremediavelmente destruído. Sem possibilidades financeiras de adquirir um outro igual. Afinal o canídeo poderia voltar sempre ao seu momento de conforto já que no dia seguinte o areal esperaria tranquilo paciente e acolhedoramente por si, percebeu que a dita se pode encontrar conforme o desejo e ambição de cada ser, o que para um poderia ser o instante mais afortunado do dia para outro poderia nada significar.

A leve brisa que corria transportava consigo o cheiro inebriante da maré, sua tez podia sentir o fustigar suave do sal que transformava a sua cor, seu olhar tinha laivos de paz estampados por todo o seu rosto embriagado pela paisagem de crepúsculo que lhe era permitida admirar, como ele a valorizava, sua energia ficava consolidada, deixando escapar a negatividade que a vida teima colocar em muitos dos passos por nós percorrido.  

Sonhou por momentos com Poseidon sua mente vagueou pelas velhas lenda mitológicas que em tempos passados fizeram dos homens de valor os heróis a seguir. Lembrou a obra de Camões sua coragem seu talento corou de júbilo e orgulho por ser português o maior poeta de todos, aquele que viveu toda a vida a sonhar, mas de pronto sua mente vagueou para os poucos valores actuais onde o sonho por vezes não tem lugar, a ambição de obter poder através do metal da ganância esse sim é o conceito que a maioria julga ser real como se pudesse comprar bilhete até ao céu.

Sua vida tinha recebido em pouco tempo alguns desgostos fortes, pensava seriamente na possibilidade de se refugiar no silêncio e na meditação, mas tinha receio da solidão e isso era um entrave ao passo desejado o de encontrar a certeza do seu caminho.

Não muito longe um pescador sentado estrategicamente numa rocha bem situada prestava mais atenção à ondulação suave, que a cana que segurava despreocupadamente, estava como que embriagado pela calma do mar que o rodeava, os seus interesses piscatórios eram quase nulos, procurava neste desporto a calma que o contemplar do mar lhe trazia, só o simples facto de o olhar contemplativo e sereno lhe permitia mergulhar bem fundo nos seus pensamentos, na procura de respostas para a sua jorna, encontrar soluções para os seus problemas.

Pedro, chamava-se assim, o pescador, tinha olhar sereno, seu rosto mostrava os traços de uma vida já longa, sua barba farta recheada de imensos cabelos cor de lua cheia, dava-lhe um ar de conhecimento que era facilmente detectável por quem se possa mostrar atento aos sinais que a vida nos vai deixando.

Sem saber porque veio-lhe à mente o outro Pedro, o pescador de almas, aquele que teve o privilégio de caminhar passo a passo com Cristo, talvez pelo seu ar sereno, talvez pela luz que dele facilmente irradiava.

Rodrigo aproximou-se do pescador com um olhar observador, saudou-o com um simples olá, perguntando-lhe como estava a decorrer a pescaria, ao qual Pedro respondeu pausadamente, bem muito bem, não apanhei peixe nenhum mas encontrei algumas respostas para os tempos que se seguem e isso para mim é, um tempo de grande pescaria.

Sem se aperceberem ambos passaram pelas conversas banais de aproximação de dois seres que acabam de se conhecer até que entraram de forma natural em algo mais sustentado, mais profundo.

Sabe, a propósito como se chama o senhor? Rodrigo respondeu o seu companheiro de momento. Pois senhor Rodrigo, interrompendo de imediato só Rodrigo sem senhor por favor. Assim seja replicou o velho pescador. Como ia a dizer o silêncio deste lugar traz-me a calma que necessito para poder fazer as minhas orações diárias, rezar ou seja simplesmente falar com Ele, enquanto olho o rebentar da maré, ou a imensa linha do horizonte, disse com ar convicto ao notar o olhar de franco espanto feito por Rodrigo. Vejo que ficou surpreendido por lhe dizer que a aqui encontro a paz necessária para poder conversar com Deus, não se espante por isso, Rodrigo, cada um de nós procede como reconheça melhor provir, desde que com isso não atropele os direitos dos outros.

Rodrigo, deixe-me perguntar-lhe, se você fosse Deus gostaria de escutar todos os dias a todas as horas sempre a mesma coisa? Pai-nosso que estás nos céus etc. que monotonia amigo, realmente é verdade seria um tédio enorme, respondeu Rodrigo., Pois é exclamou Pedro para mim rezar a Deus é falar simplesmente, dividir com Ele as minhas preocupações, as minhas alegrias, e sabe, acho que me escuta, pois em muitos momentos da vida senti a sua mão protectora indicando-me o caminho a seguir, senti sempre que nunca me obrigou a trilho nenhum, antes deu-me sempre a livre opção de optar entre o apontado e os outros. E você acredita Nele? Rodrigo ficou abstracto e após alguma demora respondeu. Sim, existiu tempos em que fiquei confundido, não pela crença em Deus mas sim pelos seus motivos, a minha formação foi alicerçada em valores católicos. Como quase todos os companheiros de infância, fui baptizado andei na catequese assim como nos escuteiros, recordo que tinha um temor imenso ao demo assim como ao seu reino, recordo que sentia pânico por vezes quando fazia um mal menor comum as crianças daquela idade, mas agora a crença é outra, acredito que o inferno é mesmo aqui, pois daqui ninguém escapa sem sofrimento, e porque creio num paraíso sem dor de forma alguma, a diferença estará nas lições que cada um tira do mesmo, confio numa existência de estágios, até um patamar final.

Também penso o mesmo, comentou Pedro, acredito que nada é pior que isto, com o passar dos tempos a evolução dos homens caminha com os valores totalmente desequilibrados, procuro várias vezes entender porque é que com tanta tecnologia, tanto terreno, tantos braços não se produz alimentos suficientes para acabar com a fome neste lugar e os políticos que na busca de soluções acabam sempre por tornar as coisas bem mais difíceis, entram todos com a vontade enorme de mudança, mas depressa se apercebem que não passam de marionetas de um interesse qualquer e aí passam a fazer parte de um determinado sistema, se não querem ver a sua carreira cessada prematuramente, existe alguém sempre por cima para dificultar a visão do tecto divino, é como uma noite nublada que forma uma barreira que não nos permite observar o cintilar da luz estrelar.

A noite tinha tomado conta da paisagem, Pedro arrumava seus pertences, o dia de pescaria estava terminada, Rodrigo aproveitou-se para se despedir deixando o desejo de o voltar a encontrar no dia seguinte. Aquela conversa tinha de ser continuada, Rodrigo assim o desejava.

O dia amanheceu trazendo consigo a calma madrugadora no despertar das gentes, a cidade começa a movimentar-se, os que vivem à volta do peixe faz muito que se levantaram para a dura jorna, os galos já despertaram os agricultores, na fábrica o turno da madrugada apresta-se para terminar mais uma noite desperta, quanto mais dura é diária mas cedo se levantam da repousante posição de descanso corporal e espiritual, foi algo que nunca entendi, não faz muito sentido, penso que quem tem o labor mais duro mais descanso deveria ter e não o contrário como acontece, mas a vida tem muitas contradições, os homens que estipulam as normas são tão coerentes como as suas conveniências, a elas estará sempre a sociedade subjugada contrário aos ensinamentos sagrados que o Messias nos legou, até se atingir o momento exacto que já não vem tão longe como muitos supõe, e aí a razão falará mais alto que a arrogância do poder adquirido.

Recordo constantemente Pedro o pescador lembro as nossa conversas e como fiquei impressionado pelo seu ar, é sem duvida uma alma gémea pois a atracção foi imediata, muito contraria ao que sentimos quando nos cruzamos com algumas pessoas que experimentamos prontamente uma força contrária que nos impele da sua presença, estou com imensa desejo de o voltar a encontrar, ficaria intensamente feliz se mais logo o pudesse de novo rever.

Rodrigo dirigiu-se à esplanada da avenida para tomar o indispensável café da manhã, antes passou pela banca dos jornais e comprou um vespertino, escusado será referir que trazia em letras garrafais mais um escândalo nacional, nada de estranhar é o Mundo herdado pelos homens, após o início da industrialização, a descoberta fabulosa desse fantástico e soberano capitalismo, que torna os pobres em mais pobres e os ricos em mais ricos.

Sentou-se na sombra de um toldo que o protegia de um sol madrugador mas escaldante, de mais um dia que se advinha facilmente soalheiro. Leu as notícias enquanto bebeu seu café, seu estado de espírito vagueou entre a tristeza e uma reduzida alegria de uma notícia pequena em que algo de bom aconteceu, sim porque os grandes espaços são reservados ás mas notícias. Reflectiu sobre o jornalismo e a sua falta de independência perante o poderio económico, se um jornal é sustentado pelos grandes grupos económicos não pelo proveito das suas vendas insuficientes como poderia ele ser soberano, quando publicasse algo que não agradasse ao poder instituído economicamente adeus publicidade de financiamento, adeus jornalistas.

Levantou-se, colocou o jornal na caixa de lixo da esplanada, achou que ai seria o lugar mais indicado para tanta imundície já chegava por hoje de tanta negatividade, acreditava nos jornalistas em si, nas pessoas, nunca nas estruturas ocultas.

Seus sentidos apelavam ás coisas boas que estão por aí, era só uma questão de encontrar, e ele bem sabia onde.

Passeou calmamente sob as sombras acolhedoras das arvores da longa e bela avenida, entrou no largo principal da cidade, olhou com doçura o corre-corre das crianças atrás dos pombos que buscavam avidamente comida em suas mãos, sentiu-se feliz pelo que gostosamente lhe era dado observar, para muitos poderia ser algo vulgar sem significado, mas para Rodrigo era um instante de felicidade.

Entrou na velha e protegedora igreja que acarinha o poeta, homem de enorme porte que do alto do seu pedestal observa o seu povo descendente, o ambiente que o rodeia, mesmo sem seguir qualquer religião. Rodrigo gostava de entrar, o silêncio e a paz que o templo transpirava era bom demais para não aproveitar, sentado no silêncio afável pensou uma vez mais no velho pescador e nas suas conversas com Deus, desejava ardentemente o passar das horas para voltar ao lugar onde conhecera Pedro na esperança de o voltar a encontrar.

Desceu de novo a avenida que tanto gostava cruzando-se com o povo que era o seu. O povo que transporta o cheiro de maresia e que traz no rosto o jeito do seu lugar.

Adorava passear nesta cidade que lhe entregou refugio e aconchego, não era a sua de nascimento já que nascera na capital, mas adorava-a com enorme paixão, algo na sua imensa magia mexia com todos os seus sentidos e emoções, era sem vacila o seu burgo.

Entrou no restaurante à procura de um almoço confortante de peixe fresco capturado nesse mar que tanto nos protege e que por vezes nos castiga, fazendo-nos constantemente recordar que existe um poder em algum lugar, bem maior.

Que bom poder almoçar a sentir o odor vindo da baía, sentiu-se um favorecido e agradeceu em silencio o facto de as criaturas raramente ou nunca se aperceberem destes pequenos grandes detalhes.

A tarde estava muito quente procurou a sombra acolhedora das arvores num dos parques da cidade, outros pensaram o mesmo, dois canídeos chapinhavam na água, fizeram-no lembrar o dia anterior, inevitavelmente rememorou de novo Pedro, na sua mente ordenou um plano para voltar hoje próximo do entardecer ao local e desejou encontra-lo na mesma postura descontraída e contemplativa esse ser que tanto o tinha encantado. Pensou em Pedro o apóstolo nos tempos antigos e imaginou como seria viver há 2000 anos atrás pensou que existia tempo para tudo, a vida deveria correr bem devagar, tempo para a família, para a oração para os amigos bem contrario aos dias de hoje, claro como em tudo existira outras menos boas, era um pensamento que daria para ocupar grande parte de si, queria pensar mais neste assunto, mas por agora pensou meter-se no carro e ir vagarosamente pela estrada da serra até ao portinho que era o seu encanto, diz que é um pedaço de céu aqui neste lugar.

A sua paixão pela serra que desemboca pela sua cidade num dos seus extremos é enorme, por norma escolhe o caminho mais longo que o levará até onde deseja ir encontra assim uma forma simpática de desfrutar mais tempo e melhor dos caminhos serranos que tanto gosta, passa por costume por um antigo convento já desactivado que fica ao alcance dos seus olhos num declive da serra, cá de cima de junto a estrada olha serenamente a paz daquele lugar, o cheiro da montanha misturado com o do mar é indescritível é uma bebedeira de prazer, seus sentidos estremecem com todo aquele deslumbramento de natureza que Deus ofertou. Engendra uma porta sideral em forma de triangulo, imagina a beleza contida nas três serras que o formam Arrábida, Palmela e Sintra e pensa nos castelos lindíssimos que ai se erguem, será que os cavaleiros nobres que conquistavam com suas espadas em forma de cruz acreditando matar em nome de Deus e do Cristianismo todos os infiéis, perderiam eles tempo olhando as paisagens lindíssimas que os rodeavam, se sim como teriam ainda depois disso vontade de matar mesmo que um dito infiel? Morreram imensos deles, daqueles que nos trouxeram tantos conhecimentos, a sua cultura foi os alicerces do nosso saber, bebemos deles a luz que alumiou nosso erudição, corremos com eles para o continente misterioso aquele que de tão rico, curiosamente carrega os mais pobres deste astro que nos ampara. Tinha algum desgosto por tantos rastos se terem extinto do que por aqui os mouros tinham abandonado, ele próprio tinha nascido na mourama, aí não encontra sinais de tão grande e poderoso império, gostaria de ver no lugar onde nasceu perseveradas as passagens desse povo conhecedor, sábio, crente e artista, lembrou Espanha e como soube perdurar todos os grande rastos de uma cultura fabulosa, lembrou-se de Granada, Córdoba e outras a sul onde se mantém os rastos deixados por esse império imenso. Lembrou o flamengo onde está numa forma bem vincados os cantos árabes.

Meteu-se no carro de novo como sempre seguiu em progresso lento seu desejo de chegar era bem forte mas não era isso que o faria acelerar, calmamente se vai longe acreditava. Depressa chegou ao início da íngreme descida que o levaria até ao paradisíaco areal procurou lugar calmo e sombrio para deixar a máquina. Antes de se dirigir ao areal tomou um café no restaurante da praia ouviu alguns lamentos sobre a política levada a cabo pelo governo actual, sobre o futebol, mas não estava para aí virado. Saiu rápido no seu desejo estava encontrar o seu novo amigo, até onde a visão lhe permitiu espreitou a rocha onde tinha encontrado amigo no dia anterior, um desgosto enorme chegou repentinamente, ele hoje não estava, não o conseguia ver, ficou desalentado mas seguiu até lá, depois de alguns passos surpresa a cana do amigo estava apoiada numa pequena rocha com a linha a perder-se dentro de agua, sentiu uma alegria imprevista quando seu olhar descobriu Pedro debaixo de um arvoredo a saborear uma sombra aprazível.

Olá Pedro, vinha na esperança de o encontrar, como está sua pesca a decorrer? Olá Rodrigo, está tudo bem consigo amigo? Tudo calmo silencioso e sem grande movimento, enfim uma paz até que desejada. E o seu como está a passar? Calmo percorri a cidade bebi o meu café, comprei o jornal passei os olhos pelas noticias refugiei-me pela igreja, pensei no mundo que me rodeia diariamente e tentei tirar algo de tudo isto.

Que tempo fantástico tem feito, realmente esta terra é sem duvida abençoada várias vezes me questiono porque escolheu Nossa Senhora esta cantinho de Mundo para fazer sua aparição, nunca se questionou sobre isso Pedro?

È amigo Rodrigo várias vezes pensei nisso amigo, várias vezes pode crer, sabe existe muitas coisas aqui neste pedaço de Universo que se pensa saber o que é, o porque é, nada de nada se sabe companheiro, respondendo a sua pergunta Rodrigo, Ela apareceu em muitos lugares desta esfera lindíssima que teimamos destruir todos os dias, guiou recados de paz, transportou consigo recados de postura, mostrou imagem vindouras, mas nada disso foi suficiente até agora amigo, o homem é um cabeça dura que nada sabe e se empolga todo montado em cavalos de intelectualidades urbanas, não valoriza as coisas que deveria valorizar apenas sustenta suas vaidades supérfluas, claro com isto não quero dizer de maneira nenhuma que está tudo perdido ou tudo está mal, apenas digo que muita coisa esta errada. Rodrigo o caminho até a luz é muito duro é um tempo de permanente aprendizagem, ninguém poderá pensar que já sabe o suficiente, em algum lugar a vida a feita de gestos de gestos de amor para além da nossa compreensão, se aqui encontramos gestos de amor que valorizamos e nos marcam para sempre, sabendo nós que de seguida algo duro e mau nos vira machucar imagine um lugar onde só exista esses mesmo gestos, difícil não é Rodrigo, a nossa mente um dia vai abrir para alem do mais alto quociente de inteligência até agora conhecido, imagine quantos Garcia Lorca, Camões, Pessoa, Da Vinci, Einstein, Picasso, Dali e outros tantos que nos fizeram sonhar e aprender, poderão existir nesse tempo, ai o caminho até á derradeira fica bem mais perto.

 

 

 

 

 

45.gif

44.gif